A advocacia é considerada uma das atividades essenciais para a administração da justiça, uma vez que exerce função social no que tange as relações humanas. Quem detém a capacidade de postular – pedir prestação jurisdicional ao Estado – os interesses dos cidadãos, provocar discussões e intermediar relações, por sua vez, é o advogado. Todavia, para auxiliar na garantia dos direitos, não basta o profissional ter o conhecimento técnico sobre a Norma.
Em outro viés, nossa sociedade atravessa uma extensa crise existencial que atinge os campos da ética, política e economia. Os cidadãos estão reputando questionamentos sobre os próprios fundamentos de vida, principalmente no que tange o sentido, a existência, o propósito e o valor. Nas relações interpessoais há o aumento da intolerância, robotização dos afazeres, agressividade, falta de empatia e atenção ao próximo.
Neste ínterim surge a valorização da Advocacia Humanizada que admite um novo comportamento do Advogado, através de um olhar para o cliente enquanto ser humano. Através desta advocacia conseguimos fazer parte de um movimento de pacificação social, a partir das aspirações e competências de cada profissional. O exercício da profissão, portanto, deverá estar alinhado aos valores pessoais e profissionais do advogado, que visa não somente instrumentalizar o conflito, mas também humanizar o Judiciário e aproximar o Direito do cidadão.
É de suma importância evidenciar que muitos advogados, a partir da consciência individual e postura profissional, não visa angariar lucros enquanto máquinas e reprodutores, mas sim exercendo sua atividade a partir de um pensamento sistêmico sobre o conflito, proporcionando uma ampla visão sobre o fato e promovendo o litígio até o consenso.
Nesse contexto adentramos ao Direito Sistêmico, que visa o exercício de uma advocacia humanizada através do paradigma do Pensamento Sistêmico, a partir de uma nova consciência na busca do seu direito e da justa razão. Este arquétipo tem uma nova forma de abordagem que compreende o desenvolvimento humano sobre a perspectiva da complexidade. A abordagem sistêmica aborda o indivíduo dentro do seu contexto de vida e das relações estabelecidas.
A intenção da citada abordagem é esclarecer as partes sobre o que há por trás do conflito que irá gerar um processo judicial, para que se abram os caminhos para a pacificação social.
Tendo em vista a necessidade de um posicionamento contundente na defesa de pessoas vítimas de situações de injustiça, entendemos a primordialidade de um olhar amplo e consciente sobre o outro, uma vez que o Direito deve ser visto como o mecanismo principal para garantia dos direitos fundamentais.
Nesta senda, o Conselho Nacional de Justiça – CNJ, através da Resolução Nº 125/10 que dispõe sobre a Política Judiciária Nacional de procedimento adequado aos conflitos de interesse, resolveu estimular práticas que promovem o apaziguamento entre opostos e proporcionam o tratamento adequado aos confrontos, especialmente aos que envolvem questões familiares, como violência doméstica, endividamento, guarda de filho, divórcio, abandono, adoção, inventário, entre outros.
Dessa forma, a fim de contribuir com a humanização, consenso e pacificação entre os litigantes, desenvolvemos o atendimento estratégico sistêmico, de modo que convidamos os clientes a compreender uma nova perspectiva e olhar sobre litígio, a partir do contexto social que estão inseridos, avocando suas relações interpessoais, padrões, processos e conflitos.
O profissional da advocacia que atua com Direito Sistêmico tem aprendizados diários sobre temas como humanização, autoconhecimento, gestão e empreendedorismo, afinal o pensamento sistêmico envolve um novo modo de olhar para a sociedade, priorizando a reconstrução do diálogo entre as partes e o uso dos meios adequados de solução de conflitos de interesse, em detrimento do modo litigante focado na solução da demanda.
O Direito Sistêmico tem como maior desafio a adoção de um hábito que visa um novo modo de observar a realidade, a partir da compreensão do macro e do amplo olhar sobre a vida. A Advocacia Sistêmica nos permite fazer parte da construção de novos significados para a justiça, a liberdade e para o modo de operar o Direito. Assim, conseguimos compreender o cliente como ser humano e não apenas como um número de processo.
Referências:
- https://atos.cnj.jus.br/atos/detalhar/156 VITÓRIA, Thaiza. Advocacia Humanizada – técnicas inovadoras de gestão jurídica colaborativa. Pod Editora, 2019.
- https://psicologado.com.br/abordagens/psicologia-sistemica/algumas-contribuicoes-sobre-aabordagem-sistemica
- https://www.cnj.jus.br/constelacao-familiar-no-firmamento-da-justica-em-16-estados-e-nodf/